Burnout como propulsor de transição de carreira de mulheres para o empreendedorismo


Burnout como propulsor de transição de carreira de mulheres para o empreendedorismo



Nos últimos anos, especialmente após a pandemia, temos testemunhado um movimento cada vez mais expressivo de mulheres que decidem abandonar o ambiente corporativo tradicional para empreender. O que muitas vezes impulsiona essa mudança não é apenas um desejo de autonomia, mas um grito de basta — um esgotamento físico, emocional e mental que não pode mais ser silenciado.


Segundo dados recentes da International Stress Management Association UK no Brasil (ISMA-BR), o país figura entre os que mais sofrem com a Síndrome de Burnout no mundo, ficando atrás apenas do Japão. Estima-se que cerca de um terço (32%) da população economicamente ativa conviva com sintomas de esgotamento mental relacionados ao trabalho — um cenário que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta milhões de brasileiros e brasileiras diariamente. Entre eles, as mulheres são as mais vulneráveis.


Durante a pandemia, por exemplo, pesquisas indicaram que aproximadamente sete em cada dez mulheres se sentiram sobrecarregadas com o trabalho, um índice significativamente maior do que entre os homens. Esse peso não se distribui de forma igual nem quando olhamos para as questões raciais: mais da metade das mulheres não brancas relataram vivenciar níveis elevados de esgotamento, evidenciando como o racismo estrutural intensifica ainda mais a exaustão emocional e profissional.


Essa realidade não acontece por acaso. Está enraizada em uma série de desigualdades históricas e sociais: a sobrecarga com as tarefas domésticas, o acúmulo de papéis familiares e profissionais, a diferença salarial persistente — com as mulheres ganhando, em média, cerca de 22% menos que os homens — e a sub-representação feminina em cargos de liderança. Além desses fatores objetivos, há ainda as pressões subjetivas: o medo constante de falhar, o autoquestionamento permanente, o peso do etarismo e da síndrome da impostora, o medo de ser substituída após a maternidade, a tentativa frustrante de mascarar sua vulnerabilidade... (enfim, a lista é enorme e por si só, já geraria um único artigo). Tudo isso alimenta a sensação de que é preciso corresponder a padrões inalcançáveis de desempenho para, enfim, ser reconhecida.


O burnout, nesse contexto, surge não apenas como um colapso, mas como um catalisador (sem romantismos, claro!). Para muitas mulheres, ele representa um ponto de ruptura: não é mais possível apertar os cintos até o limite, se espremer para caber em espaços que sufocam, viver desconectadas da própria essência, se anular. É nesse momento, de caos e vulnerabilidade, que muitas decidem reconstruir suas trajetórias empreendendo — agora a partir de escolhas mais alinhadas com quem são, com seus valores, sua saúde e seu desejo genuíno de fazer a diferença no mundo. Um verdadeiro retorno para si, ou, parafraseando Nietzsche, mulheres que de uma forma ou de outra, entenderam o real significado do "torna-te quem tu és" e deram um passo para além da caverna, ou, parafraseando Saramago, entenderam que "para ver a ilha é preciso sair da ilha" (sim, hoje tô bem poética e cheia das referências rs).


Mas é importante não romantizar a vida empreendedora. Embora muitas mulheres encontrem nela uma possibilidade de reconexão com seus valores e de construção de um trabalho mais alinhado à sua essência, o empreendedorismo também carrega seus desafios e pode, sim, ser um espaço de adoecimento. Sobretudo quando seguimos desconectadas de quem somos, tentando performar um modelo de sucesso que não nos representa, atropelando nossos limites, desconsiderando nosso tempo, nossa história e nossa singularidade. É por isso que sempre ressalto: empreender não é necessariamente sinônimo de liberdade ou saúde, mas pode se tornar, se for vivido com fidelidade e lealdade à própria essência.


Falo mais sobre essa reflexão em um dos últimos artigos que escrevi: "A Síndrome FOMO e o adoecimento das mulheres empreendedoras no digital: a importância do Branding Autêntico". Nele, aprofundo como o medo de ficar para trás (FOMO) e a pressão por uma presença incessante nas redes sociais têm adoecido muitas mulheres que empreendem, e como um processo de branding autêntico pode ser um caminho saudável e potente para criar marcas e negócios mais sustentáveis, respeitando quem somos e o que realmente queremos construir.


Na Dissemina Ideias, ao longo desses seis anos de atuação, tenho acompanhado inúmeras histórias de mulheres que, após o pós-burnout, decidiram empreender (e ouso dizer que, em números, casos como esses chegam a representar quase 50% das histórias que passaram por aqui). Mulheres de todas as idades, origens, áreas de atuação e níveis hierárquicos, que, após anos de relações abusivas e adoecedoras no ambiente corporativo, decidem, com coragem, se jogar de corpo e alma naquilo que acreditam. É como se o burnout, paradoxalmente, operasse como um chamado para a vida plena, para um trabalho com mais propósito, autonomia, auto respeito e verdade. Foi assim também comigo.


Há dez anos, vivi meu próprio furacão interno: uma síndrome do pânico, acompanhada de sintomas de burnout que só hoje consigo nomear. No meio do caos, tive um vislumbre de lucidez: percebi que aquele lugar e aquele modo de vida não me cabiam mais. Era preciso respirar, me (re)conhecer, reencontrar a minha essência. Desde então, construí um caminho que me trouxe até aqui, realizada, alinhada aos meus valores e impulsionada pelo propósito de ajudar outras mulheres que, como eu, querem e precisam (re)nascer para si mesmas e transbordar para o mundo suas potências criativas e transformadoras.


Na Dissemina Ideias, ofereço uma consultoria criativa e afetiva que atua no florescimento de marcas femininas (pessoais ou corporativas). Combinando estratégia, sensibilidade e escuta profunda, ajudo mulheres a se posicionarem no mundo com autenticidade, propósito e coragem. Acredito que uma marca não é apenas o que se vê, mas principalmente o que se sente. Por isso, vamos além da superfície, unindo branding, comunicação, marketing, psicanálise e fotografia para revelar a essência de cada mulher e de cada negócio.


Meu papel, como mentora e consultora, é ser um espelho cristalino: para que cada mulher e cada marca que passa pela minha trajetória possa se enxergar com coragem, verdade, empatia e clareza. Mais do que oferecer respostas prontas, atuo como uma guia que estimula reflexões, provoca movimentos internos e propõe exercícios que ajudam a construir uma presença forte, coerente e autêntica no mundo.


Não se trata de impor modelos, mas de acolher processos singulares de (re)descoberta e criação. De ajudar cada mulher a reconhecer sua história, sua bagagem e, a partir delas, elaborar novas narrativas e propostas de valor. Como bem sintetizou a Carla Sapiensa , uma das mulheres que acompanhamos nesse processo de transição:



“Uma das coisas mais importantes foi que a Renata me ensinou como trabalhar a bagagem que eu já trazia para ser uma abertura de portas no novo caminho que eu estava começando. Como eu poderia usar meu histórico para trazer clientes que me conhecem pela credibilidade que eu já tinha construído. Ela me estimulava muitas reflexões. Mas ela soube, de uma forma muito inteligente, aproveitar o melhor de mim para que isso me ajudasse. Eu não estava sendo lançada do zero. Eu tinha uma história, pessoas, um networking desenvolvido. As pessoas só precisavam me enxergar agora para outras oportunidades, outros serviços, outras formas de entrega.”

Esse depoimento ilustra o que acredito profundamente: ninguém começa do zero. Cada trajetória carrega uma potência única, uma bagagem que pode — e deve — ser ressignificada, integrada e transformada em base para novos projetos, novas marcas, novas formas de atuação. Meu método é estruturado, com metas, prazos, estímulos criativos, exercícios de autoconhecimento, mas sempre respeitando o tempo e o processo de cada mulher. É uma caminhada conjunta, onde dou a mão, mas não faço pelo outro. Provoco, inspiro, oriento, para que cada uma encontre em si mesma a força e a clareza para construir a sua marca com coerência e consistência.


Acredito que posicionar é também acolher. É criar com sentido. É transformar ideias em presenças potentes, reais e memoráveis. É florescer — como mulher, como marca, como potência criadora de novas possibilidades no mundo.


O burnout, nesse contexto, deixa de ser apenas um fim ou um diagnóstico. Passa a ser, paradoxalmente, um portal: a oportunidade de, após o esgotamento, encontrar uma forma de atuar mais leve, saudável, íntegra e verdadeira. Um convite para respirar, viver com mais equilíbrio, abraçar as próprias verdades e transformar a dor em potência criativa.


Se você sente que está nesse limiar — entre o colapso e a possibilidade de uma nova trajetória — saiba: é possível (re)nascer, é possível florescer. E será uma alegria e uma honra caminhar ao seu lado nesse processo.


Se quiser conversar, conhecer melhor meu trabalho ou entender como posso te apoiar nesse processo, será uma alegria te ouvir. Vamos juntas?


Entre em contato.





Dissemina Ideias