Quem me acompanha há algum tempo sabe que sou publicitária e que trabalhei no mercado de agências. Foi uma experiência muito importante, pois carrego comigo muito do que aprendi naquele tempo ao atender empresas dos mais variados segmentos. Mas o que eu percebo hoje, observando com os olhos da Renata de agora, é o quanto eu encaixotei a minha energia criativa para caber no conceito de criatividade de então.
Na agência, eu achava que criatividade tinha que ser um produto final, tipo a peça pronta do job. Essa é a percepção que me orientava na época e que ainda orienta muitas de nós, por conta da visão limitante que a sociedade impõe sobre a criatividade. Seguindo essa lógica, é muito comum as mulheres hoje em dia acharem que não são criativas, e eu me sentia assim também. Eu me desdobrava em mil, sem perceber que ser criativa, na verdade, já era a minha a natureza, a natureza de todas nós mulheres.
“A criatividade não é expressa num produto, mas no processo de dar forma a ele. É o dar forma à experiência do seu eu interior, em relação ao mundo a seu redor, seja numa forma tangível, como na geração de uma criança ou numa pintura, seja numa forma intangível, como numa ideia, um relacionamento ou uma dança”. Esse é um trechinho do meu livro de cabeceira do momento, Lua Vermelha, de Miranda Gray, que tem me clareado a visão nos momentos mais nebulosos.
Pois é, mas até chegar a esse entendimento, tive que passar por alguns percalços. Como disse, trabalhei um tempo em agência, uns 5 anos, tentando me adequar ao que a sociedade chamava de criativo, competente, produtivo… Mas por mais que eu me esforçasse, eu não me sentia tão realizada com o trabalho que fazia ali.
Eu tinha o desejo de mergulhar na essência dos clientes, de conhecer o negócio por dentro, de trazer o propósito da marca para todas as suas ações. Mas quem já trabalhou em uma agência sabe que, na maioria das vezes, não dá pra fazer isso devido à quantidade de clientes que são atendidos ao mesmo tempo. É um ritmo frenético.
Chegou, então, um momento que eu percebi que aquilo não era pra mim, que foi um ótimo aprendizado, mas que não me completava, e decidi empreender. Juntei-me à Luciana Gagliano e criamos a Alfaia Branding. Foi um período de muito aprendizado de uma só vez: abrir empresa, estar à frente de um negócio, prospectar novos clientes, fechar negócios, fazer o relacionamento com clientes, posicionar nossa marca, planejar as ações (nossas e de clientes), gerenciar expectativas, manter o foco, gerenciar a marca, atividades e a comunicação como um todo…
Aprendi muuuuuuito!
Cerca de um ano e meio depois, veio uma crise no mercado, um certo desalinhamento no momento que cada uma de nós estava vivendo, e decidimos encerrar a Alfaia. Comecei, então, a atuar de maneira independente com Branding e Planejamento Digital. Mesmo tendo a oportunidade de ir mais a fundo na identidade e propósito de cada cliente, eu ainda sentia falta de uma conexão mais aprofundada, íntima mesmo, alinhada com meus valores e o tão falado propósito. Faltava algo.
Foi aí que eu comecei a escutar algumas pessoas me dizerem: “Tu devia trabalhar com empoderamento de mulheres”. Prestei atenção a esses vozes, comecei a ouvir mais a minha própria voz e senti que ainda havia em mim um incômodo, uma frustração por ter que separar em caixinhas diferentes duas coisas que eu amava fazer: a fotografia e a publicidade. Eu queria inclusão, e não, exclusão.
Busquei, então, o ponto de encontro entre as duas coisas e cheguei ao propósito que motiva tudo o que faço, seja com fotografia ou publicidade: ajudar as pessoas a mergulharem dentro de si, encontrarem sua essência e alinharem essa essência ao trabalho e à vida delas. Fui mais fundo na investigação desses incômodos e percebi que havia algo em comum entre mim e várias outras mulheres com quem eu me relacionava: uma dificuldade gigante em se posicionar profissionalmente, uma luta desgastante pra ganhar espaço, voz e respeito no mercado.
Pronto! Com esses insights, eu finalmente me encontrei e criei a Dissemina, que chegou pra ajudar outras mulheres (e a mim mesma) a se posicionarem, sendo quem são e colocando no mundo o que acreditam de verdade, sendo fiéis à sua história, ao seu propósito e à sua essência. Mas a jornada continua. Lançar a Dissemina foi só o começo, o passo que me possibilitou entrar em contato com mais mulheres incríveis e a conhecer mais a fundo o melhor de mim mesma e de todas elas através desses encontros.
Nesse processo, percebi que, além da batalha com o mercado, havia também uma luta interna na maioria de nós, porque a mesma mente que criava tantos sonhos e planos, também podava as nossas aspirações com mensagens de autossabotamento e insegurança. Claro! No meu caso, a mesma mente que se abria às palavras empoderadoras de Miranda Gray era a mesma que havia passado anos e anos sendo reprimida e tentando se adequar às regras da sociedade patriarcal para ser considerada criativa, competente, produtiva.
Continuei o caminho e a cada passo que eu dava, percebia que na verdade eu não estava percorrendo um novo trajeto, mas retornando para algo que já estava em mim e eu havia negado o tempo todo. É o que Clarissa Pinkola Estés, no livro “Mulheres que correm com os lobos”, chama de volta ao lar, de retorno ao próprio self. A energia criativa sempre esteve em mim, apenas eu não sabia como deixá-la fluir e a reprimia quando tentava encaixotar meus sonhos, minhas ideias, meus planos. O que gerava um incômodo enorme aqui dentro.
Todo esse incômodo que eu sentia (e ainda sinto em alguns momentos) começou a ser explicado: “A limitação das energias criativas, em geral, pode causar uma sensação de isolamento, inércia, pouca inspiração, falta de libido e uma consciência debilitada do mundo físico. A repressão das energias criativas nos períodos em que elas são dinâmicas pode causar irritabilidade, frustração, (...)”. Lua Vermelha, Miranda Gray.
Hoje eu entendo que somos todos seres criativos e que nós, mulheres, temos dentro da gente o poder de criar e recriar, faz parte da nossa natureza intuitiva, cíclica e sensível. Precisamos entender e aceitar que somos cíclicas e que não perdemos a nossa criatividade em alguns momentos do ciclo, ela apenas muda de expressão. Sabendo disso, podemos ajustar nosso estilo de vida a essas mudanças e viver de maneira muito mais saudável, feliz e verdadeiramente criativa!
Vamos nessa? Disseminar sua essência criativa pelos quatro cantos do mundo?!